Cams.

Camila C. Crosgnac Fracalossi, sagitário, 17 de dezembro de 1990. Médica veterinária, escritora, servidora pública e casada com o Rodrigo. Mãe do Kovu, da Lassie e do Bóris.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Por que larguei a área de medicina veterinária de animais selvagens?

Por esses dias, abri uma caixinha de perguntas no meu Instagram 📸 e recebi uma que era bastante complexa. Nunca que eu ia conseguir respondê-la por lá, e é um assunto sobre o qual queria falar há tempos, então vamos lá:


Os motivos foram muitos, mas não é mentira que também acabaram surgindo outras oportunidades legais e eu as agarrei com gosto. Felizmente, também foram áreas que me permitiram crescer beeeem mais profissionalmente, já que o mundinho de selvagens é MUITO fechado e nem sempre depende só da sua competência, formação e dedicação - depende demais de "QI" (o famoso "quem indica") e acaba sendo difícil pra quem não tem saco pra puxar sacos 😅 digo isso porque me boicotaram em três estágios grandes que eu faria na área porque "não me conheciam", e quase num quarto - que um amigo me ajudou com a indicação e consegui abrir as portas.
Engraçado que, em todos os locais em que me abriram as portas, recebi propostas e convites porque interessava a minha competência e o meu trabalho, além do fato de que fiz amigos que perduram de um único mês de estágio até hoje (inclusive, foi assim que vim parar de volta em Campinas, hehehe). Fiz até palestra pra equipe de um desses locais e, pra mim, foi um dos melhores momentos da minha vida profissional.
Além de tudo isso, eu também passei por inúmeros assédios dos quais só me dei conta dois anos depois durante a palestra de uma colega da Coordenação de Saúde do Trabalhador na SESAU, que veio logo depois da minha sobre Violências Interpessoais num evento. Logo eu, que tinha acabado de falar sobre assédio moral também ser violência, me surpreendi quando minha ficha caiu durante a fala dela descrevendo exatamente o que eu vivi: fui desconsiderada várias vezes profissionalmente por ser "muito nova" (me formei mais velha do que a média dos colegas, com 26 anos, mas felizmente minha cara não é estragada como a da maioria 🥰 hehehe), "inexperiente" (sendo que eu estava numa proposta de justamente ADQUIRIR a experiência que me faltava naquela área, mas tinha competência e conhecimento para trabalhar, além do fato de trabalhar desde os meus 14 anos), por ser gorda (porque aparentemente seu biotipo influencia no seu cérebro), por ser paulista (desculpa se eu não consegui migrar do útero da minha mãe pra nascer em outro local) e até pelo meu sotaque (de uma pessoa que me pediu inúmeras vezes ajuda com as outras línguas que eu falo, e inclusive arranhei um francês que nunca falei pra auxiliar tecnologicamente uma pessoa francesa). Enfim. Não me prolongo sobre isso, mas foram várias situações pequenas que foram minando minha autoconfiança profissional aos poucos sem sequer eu perceber, até estourarem numa última situação que foi MUITO pesada e me traumatizou por anos sem eu também perceber. Eu larguei o trabalho dos meus sonhos com um bom salário antes do previsto porque não conseguia mais estar lá e sentir o prazer que eu sentia. Me sentia incapaz e amedrontada.
Quando passei no concurso em Ananindeua, na Coordenação de Vigilância Epidemiológica, me encontrei de mil maneiras, mas a principal foi a valorização que recebi mesmo eu tendo ZERO experiência (meus colegas me injetaram todo o conhecimento que podiam e eu cresci muito, inclusive em prestígio profissional) e eu me senti confortável pensando que nunca mais eu trabalharia com bichos. Quando fui chamada em Campinas, deixei a Epidemiologia com imensa dor no coração, sonhando em voltar pra ela, mas nessas últimas férias pude compreender várias coisas - e a minha ida à Unesp foi essencial pra isso. Pisei no lugar onde mais sofri, mas como vencedora. Enxergar minha trajetória profissional e ver tudo que eu consegui por MÉRITO PRÓPRIO, sem precisar de ninguém me indicando pra lugar nenhum, e podendo fazer pelos meus estagiários o bem que me fizeram e JAMAIS o mal, adotando-os como minhas "crianças" e mostrando TODAS as realidades da profissão (inclusive OBRIGADA por todas as vezes que tive um meltdown e vocês me acolheram sem julgar, como também sempre fiz com vocês 💖). Tudo isso me deixou orgulhosa, fez com que eu me sentisse mais forte e me fez superar, ENFIM, boa parte disso tudo que eu vivi.
Desabafo sobre isso com lágrimas nos olhos pois clínica de cães e gatos nunca foi o meu sonho, não é o que eu mais amo mas eu faço com todo o amor do mundo por eles que chegam até mim. A cada adoção, meu coração se emociona e se alegra. Hoje, tenho um sonho (não sei quão distante, pois $$$$) de fazer uma pós em gatos ou comportamento de saúde coletiva de pequenos animais ou em geriatria, mas também em voltar a trabalhar com selvagens - QUEM SABE? Essa possibilidade não é tão distante, mas eu ainda tenho um último passo pra me recuperar dos traumas e ter coragem de anunciar isso aos quatro ventos.

Saudades


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