Cams.

Camila C. Crosgnac Fracalossi, sagitário, 17 de dezembro de 1990. Médica veterinária, escritora, servidora pública e casada com o Rodrigo. Mãe do Kovu, da Lassie e do Bóris.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Crônica: Sergipe.

Sergipe.
Por Camila Fracalossi.

Um moço. Camisa branca de mangas compridas dobradas displicentemente até os cotovelos, calça social azul escura, sapatos pretos. Pele branca, bonitos olhos azuis em contraste com oa cabelos escuros escorrendo nos olhos. Uma mala discreta e moderada de carrinho, com uma mala menor da mesma cor acomodada em cima dela. Junto dele, uma moça. Levemente mais alta que ele, devido também aos sapatos pretos sociais de salto baixo. Cabelos aloirados, olhos castanhos, rosto fino com oclinhos intelectuais. Vestia um terninho em azul escuro. De longe, pareciam um casal - mesmo que de colegas de trabalho. Combinavam de um jeito especial, e nem tinham trocado uma palavra até então.

"Esse ônibus vai para Campinas?", perguntou uma senhora descabelada, de cabelos escuros grisalhos completamente desgrenhados. A moça assentiu, simpática, provando que os oclinhos e ps bicos super finos do sapato fino eram apenas meros intimidadores, e derrubou sua passagem no chão. O moço abaixou-se para pegá-la.
"Obrigada", ela respondeu ao recebê-la das mãos dele.
"Sem problemas", ele sorriu, e os olhos dele pareceram sorrir também. Parecia a desculpa perfeita para que o destino os juntasse. "E então, vai pra Campinas?"
"Ai, vou", ela riu. "Queria entrar logo no ônibus pra descansar..."
"Nem me fala, quatro horas de viagem", ele concordou. "Você é de lá?"
"Na verdade, vim de Brasília. Morei em outros lugares também, e agora moro lá, mas tou sempre viajando a trabalho", ela respondeu.
"E o que você faz?"
"Sou psicóloga, mas trabalho com RH. Faço entrevistas e contratações pra uma loja", ela sorriu. A aparência intimidadora estava explicada. "Mas e você, de onde é?"
"Sou de Sergipe", ele respondeu.
"'cê tá brincando...", ela riu escandalosamente. O moço ficou sem graça, sem entender, e ela não parava de rir.
"O que é que tem?", ele a interrompeu, confuso.
"Eu nasci lá! Minha família toda é de lá! Mudei para Brasília na adolescência... mas todo mundo voltou a morar em Sergipe, e eu vim pra cá"
O moço riu. Realmente, tremenda coincidência, e os dois esperando para entrar no mesmo ônibus em Botucatu.
Conversa vai, conversa vem - trocaram informações sobre as escolas em que estudaram, as comidas favoritas e o que era mais gostoso em voltar pra lá.
"...então vou nesse final de semana aproveitar o Dia dos Pais com meu pai e matar as saudades de tudo!", ela terminou.
"Eu também vou nesse fim de semana! Vai quando?"
"Ah, saio de Viracopos na sexta...", ele assentiu, "...à noite!"
"Eu também", ele riu, parecendo de fato alegre pela descoberta. "Que empresa?"
"Azul...", ela respondeu, também risonha.
"Bom, então nos veremos novamente!", ele sorriu.
Durante a viagem, uma parada em Tietê. Ele desceu e voltou com uma bala, e ofereceu-a a ela num gesto amigável.
O final da história é desconhecido, ainda. Mas, se depender de quem vos fala, eles se apaixonarão em Sergipe.