Cams.

Camila C. Crosgnac Fracalossi, sagitário, 17 de dezembro de 1990. Médica veterinária, escritora, servidora pública e casada com o Rodrigo. Mãe do Kovu, da Lassie e do Bóris.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Desabafo: do nada pro lugar nenhum

É estranho pensar há quanto tempo eu não venho aqui de maneira ativa, para de fato falar sobre alguma coisa. Tal qual muitas das coisas que eu gosto de fazer, é algo que sempre fica no milésimo plano, porque "não é importante". Mas o que é mais importante do que fazer aquilo que me faz feliz e cuidar de mim? Fica o questionamento.


Infelizmente, a resposta vem rápida e faceira: pagar as contas. E por mais tosco que seja, já que morta eu não terei contas pra pagar, dinheiro acaba sendo sempre a minha única preocupação.


Eu não tenho grandes luxos, ou talvez nenhum - o que é luxo, afinal? Eventualmente gasto dinheiro com futilidades porque trabalhar em 100% pra pagar as minha contas de sobrevivência básica me mataria em uma fração de segundo. Procuro dar o melhor de mim em tudo o que faço, mas tá tudo bem se não der certo. Eu só não posso falhar com aqueles que amo, e nesse ponto deveria me amar mais - embora a auto-estima esteja em dia, eu me negligencio por toda e qualquer outra coisa que eu julgo importante, enquanto eu deveria ser sempre a minha própria prioridade.


Algumas coisas, por mais desagradáveis e erradas que sejam, servem para algum fim. Não, elas não deveriam ter acontecido, mas ao mesmo tempo, uma vez inevitáveis ou irreparáveis, que tiremos algum proveito. Hoje, eu me controlei para não perder o respeito por uma senhora mais velha, mesmo que ela estivesse me desrespeitando no meu direito de expressão, me tratando com preconceito e insinuando que eu estivesse mentindo, enquanto ela deveria ter me acolhido como sua paciente procurando ajuda. É sempre TÃO difícil ir pedir ajuda, porque eu sei que vou passar por essas situações - toda vez é a mesma coisa. A minha saúde mental é deixada de lado e fica eventualmente ainda mais comprometida com essa preocupação excessiva pela minha aparência. Não nego o sobrepeso, porém ele é um problema secundário e posterior à minha ausência de sono - queixa de toda uma vida. Não dormir afeta minha produtividade, meu humor, minha saúde mental e física, me deixa letárgica, sem forças para trabalhar e estudar sentada - quiçá praticar atividades físicas e me cuidar devidamente. Há dias minhas refeições são pobres em nutrientes e qualidade, isso quando elas existem. Há duas semanas eu não durmo ou descanso e me sinto fraca e desfocada, improdutiva, extremamente reativa às situações cotidianas mais banais. O nutriente mais rico que consumi no dia de hoje foi a proteína ultraprocessada do frango contida nos meus quatro <i>nuggets</i> junto com o espinafre da minha esfiha.


Eu me arrependo, sim, de não ter sido escrota ao máximo no momento do destrate, mas ao mesmo tempo me orgulho por saber que honrei a educação que recebi. Ver de tão perto um profissional de saúde que não sabe tratar seu paciente com o mínimo de acolhimento e respeito é um alerta enorme para que eu, sempre que assumo o papel de educadora em saúde, insista neste ponto. Capacitar outros profissionais a exercer a auto-crítica em relação aos seus preconceitos é importantíssimo para que outros não venham a se sentir como eu me senti. Por outro lado, saber que a minha prioridade sempre foi abolir julgamentos, acolher meus pacientes e permitir que se expressassem naquele momento de vulnerabilidade que uma consulta ou procedimento médico traz (fossem eles humanos ou não) me enche de orgulho em relação à profissional que eu tenho sido. Sem falsas modéstias, essa sempre foi a minha maior prioridade. Eu não preciso ser a melhor profissional do universo, a mais falada e conhecida, bem conceituada nem nada disso: eu preciso ser a melhor profissional para o MEU paciente, aquele que está dependendo de mim naquele momento, e eu luto sempre para sê-lo.


Embora todo esse desabafo seja completamente desconexo e esteja ocorrendo à 01:30 da manhã de uma sexta feira em que eu deveria estar dormindo (novidades!), optei por registrá-lo como um marcador de águas: quem sabe eu posso trazer alguma sanidade ou até mesmo luz pra vida da Camila de hoje mais tarde ou ainda daquela de alguns anos à frente.